data-filename="retriever" style="width: 100%;">Oito de março, Dia Internacional da Mulher. Floriculturas lotadas, promoções no comércio, bilhetinhos e chocolates distribuídos em diferentes ambientes, shows na praça, champanhe nas lojas, palavras doces, sorrisos e elogios escorrem por todos os lados.
Entretanto, sabemos que não é um dia para comemorações e, sim, mais um dia de luta. Aqui nos trópicos, estima-se que cinco mulheres são espancadas a cada dois minutos. Referências da Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) apontam que mais de 80% das situações de agressões são cometidas por homens com quem as mulheres têm ou tiveram algum vínculo afetivo: atuais ou ex-companheiros, cônjuges, namorados.
No Rio Grande do Sul, dados da Polícia Civil revelam que a cada 3,7 dias uma mulher é vítima de feminicídio consumado. No ano de 2021, foram registrados 96 casos no Estado, representando um aumento de 20% em comparação com 2020. Desses feminicídios, 81,25% as vítimas tinham relação íntima com os autores sendo que 67% não possuía nenhuma ocorrência policial contra os agressores.
Pesquisa recente do Observatório da Mulher Contra a Violência revelou que 71% das entrevistadas reconhecem que o Brasil é um país machista e, para 75%, o medo leva a mulher a não denunciar os abusos sofridos. Perturbações contra as mulheres acontecem em casa, na rua, no trabalho, no transporte público, nos espaços de lazer e até no ambiente virtual.
Diversas leis nacionais e internacionais frisam que é urgente reconhecer que a violência doméstica e familiar contra mulheres e meninas é inaceitável. No Brasil, podemos citar a Lei Maria da Penha, Lei Carolina Dieckmann, Lei do Minuto Seguinte, Lei Joana Maranhão, Lei do Feminicídio, Lei contra o Stalking, Lei da Violência Psicológica, Lei da Violência Política e a Lei Mari Ferrer. Tantas leis, e as violências só aumentam. Não é de se admirar. No país em que deputado vai até uma situação dramática de guerra falar de "mulher fácil" e o próprio presidente, além de fazer apologia ao turismo sexual no Brasil ("quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade") e que mulheres devem receber salários menores porque engravidam, nada mais surpreende. Os mecanismos históricos e culturais que geram e mantêm desigualdades entre homens e mulheres sustentam o silêncio e a conivência com estes crimes. Precisamos denunciar, resistir, quebrar a mudez. Trabalhar com esse tema em todos os cantos, desconstruindo o machismo, diariamente.
Além das situações de violência, quantas adversidades ainda existem e persistem no caminho das mulheres? Tripla jornada de trabalho. Piadinhas desagradáveis nas trajetórias percorridas. Descrédito do nosso potencial. Desigualdade salarial. Abusos sexuais e outras tantas barbaridades.
Buscar a igualdade econômica e política é esforço antigo. Construir uma educação mais igualitária para meninos e meninas também. Sinceramente, abrir o jornal e ler a notícia que no dia 8 de março de 2022 uma mulher foi barrada na porta de um hospital por estar usando uma saia na altura dos joelhos é pensar que acordamos na Idade Média. Como diria Renato Russo, "que país é este", que cria leis para nos passar mel na boca e continua com posturas repulsivas?
Progredimos, é verdade. Ocupamos as universidades, por exemplo. Porém, o Dossiê das Mulheres Negras revela que no quesito educação apenas 5,2% das mulheres negras no Brasil alcançam o Ensino Superior, contra 18,2% das mulheres brancas.
Vamos aprendendo a praticar sororidade, a buscar melhorias juntas, mas ainda há muito para caminhar. Avante!